Contos

Contos Místicos

16/01/2014 20:33
Casamento Alquímico

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leone Amaral de Oliveira

 

O Casamento Alquímico

Vol.I

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Prólogo

 

 

 

 

 

Eu tinha 15 anos quando me interessei pelos artigos místicos, no ano de 1983. Vivia na cidade de santa Bárbara do Sul, no Rio Grande do Sul, e quando pequeno, sempre estive em convívio com os artigos das revistas o ROSACRUZ, que meu pai vivia lendo, e mostrava-me, com certa relutância, pois dizia ele que aqueles ensinamentos eram secretos, e nunca poderia ser lidos, sem que fosse iniciado na Ordem. Eu, ainda era muito jovem, e não possuía o dom da leitura. Apenas via aquelas figuras e símbolos estranhos, que meu pai mostrava, e dizia que eram sagrados. O meu pai se chamava João de Oliveira, mas era conhecido na cidade, como João retratista. Pois, era o único fotógrafo da região. Eu cresci, no berço místico, envolvido por todo aquele mistério, que me chamava a atenção, por meu pai sempre dizer que o misticismo para ele era sagrado. De certa forma, cresci com aquele pensamento de adoração por aquele mistério, embora ainda não o conhecesse, sabia que havia algo de misterioso por traz de tudo, que meu pai zelava tanto.

 

O Que me chamava atenção era ,quando alguém de minha família ficava doente, ele vinha e colocava a mão no pescoço, e ficavam alguns minutos ali, como se estivesse em adoração, e sempre obtinha resultados positivos. No outro dia, estava bom, como se nada tivesse acontecido. Na verdade, ele não estava orando, como minha mãe falava. Logo mais tarde, pude compreender que ele usava certos princípios místicos, para realizar curas. Era bastante, confundido por aqueles que nada sabia disso, mas sempre tinha resultados.

Eu nesta época só podia ler as revistas o Rosacruz, pois ainda não tinha sido iniciado nos mistérios da ordem, e desta forma apenas ficava ouvindo o que ele, meu pai contava a respeito do misticismo. Então uma noite pude perceber que ele se afastava todas as quintas feiras, sempre há mesma hora. Meia noite. Não pude deixar, de me levar pela curiosidade e então o segui, quando me deparei com algo que me assustou muito. Ele estava na frente de um espelho, numa sala que ele usava para revelar as fotografias, que o chamava de “Quarto Escuro”, iluminado apenas por três velas em cima de um altar que improvisava todas as quintas feiras. Este local mais tarde ficou conhecido como “Sactum”, mas o que me chocou, foi que momento depois de ele entrar no Quarto escuro, e acender as velas, ficou imóvel na frente do espelho, e então minutos após, seu corpo tinha sumido por completo da sala. Pensei em correr e chamar meus irmãos, mas estava ainda chocado, e então quando voltei o olhar para dentro da sala, havia apenas uma névoa esfumaçada, que pairava no quarto escuro. E logo a seguir, ele reapareceu suavemente sobre a névoa de luz no quarto. Quando pensei em ir-me embora, ele me chamou para dentro. Achei que ficaria zangado, e então ele apenas disse: “Não conte pra ninguém, o que acabou de ver.” Eu não estava assustado, mas estava muito curioso, e ao mesmo tempo surpreso, por meu pai ter realizado aquela experiência de invisibilidade, diante de meus olhos. Disse que um dia eu poderia fazer isto e muito mais, quando fosse iniciado. O tempo passou, e iniciei-me aos mistérios, mas até hoje, não consegui realizar, o que meu pai fazia diante de meus olhos com tanta facilidade. Sua incrível habilidade de projetar seu corpo no espaço, quando estava escuro, tornando-o névoa de luz, nunca mais o presenciarei. Mas, suas técnicas e sua maestria de controlar as forças da natureza, não serão esquecidas por mim. Ele viveu isolado em sua cidadezinha natal, por toda a sua vida, e todos o conheciam apenas por João Retratista. Mas, velou seu verdadeiro trabalho místico, e suas habilidades, de projeção, e invisibilidade ao mundo.

 

Eu logo cedo quando completei 18 anos, resolvi partir de minha cidade natal, em busca deste conhecimento e iniciação aos mistérios, e vir viver em Curitiba, onde era a cede da ordem Rosacruz Amorc. Ali, fiz minha iniciação ao Templo, e então passei maior parte de minha vida afastada de minha cidade natal, onde tudo começou. Sai em busca da fórmula mística que me daria as qualidades que meu pai possuía, mas mal sabia que nada encontraria longe de casa. E então quando retornei meu pai já havia passado para a grande iniciação. (Termo que se da passagem para outra vida.) Não esperou nem para despedida. Partiu desta vida para outra, deixando um vazio do desconhecido. Agora, o desconhecido, estava velado, e a chave para abrir aquela porta, fora lacrada para sempre.

Revirando os seus pertences, eu pude encontrar alguns escritos deixados no meio das empoeiradas revistas já consumido pelo tempo, algumas anotações que me chamaram a atenção. Estas anotações, escrito a caneta, revelavam algumas experiências que ele fazia, no quarto escuro. E uma estava destinada exclusivamente a mim. “O Coração do Destemido”. Este manuscrito contava sua última experiência em que ele iria passar depois de sua morte, que ocorreria em breve, e que ele haveria de ser projetado para o além da vida, antes mesmo que tivesse iniciado a sua grande iniciação cósmica. Estava destinada a mim, e não podia ser revelada a ninguém, ou mostrada os seus manuscritos. A não ser em forma de conto. Assim, que eu tivesse lido, eu deveria queimar os papeis de sua autoria, para não cair em mãos de oportunistas. Desta forma, não haveria de restar provas, de que ele realmente fazia o que fazia. Assim, após ler todos os escritos feitos por ele, eu os queimei, junto as seus livros, mais sagrados, realizando sua vontade.

 

Não resta dúvida de que o que ele escreveu deveria ficar guardado como resultado de sua obra, e a projeção de sua iniciação maior, depois que partira, para um plano ao qual o homem, jamais ousou em visitar, mas ele sabia exatamente, o que deveria acontecer após sua transição na terra. O que segue nas próximas linhas, é uma visão de um visionário, que previa a sua morte, e descreveu o que aconteceria naquele plano insólito do após vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo I

 

A Passagem

 

 

Seu elegante cavalo branco tinha empinado para trás, num gesto de recuo, quando a lança atingiu seu peito repentinamente. Não pode ao menos perceber quem foi o seu agressor, pois aquela sangrenta batalha entre homens desordenadamente, estava chegando ao fim. Seus olhos se encheram de água, estava caído ao chão, em meio aos olhares curiosos de seus amigos, que embora tentassem desacordados, era tarde demais, para reanimá-lo. 

Enquanto aquela cena demasiadamente triste estava ficando cada vez mais para trás, o jovem corpo do destemido despertava em outro lugar. O passado já não mais lhes pertencia. Tinha de abandonar aquele velho corpo, e despertar em um novo corpo, pois estava agora face ao desconhecido. Todo seu orgulho, suas angustias, seus medos, e todos os problemas da vida terrena, tinham ficado para trás, até mesmo seu corpo físico, não mais existia, neste mundo.

Que mundo era este? Estavam diante uma enorme crateras de rochas pontiagudas, todas flutuando de cabeças para baixo suspensas na atmosfera.  Em meio a tanta incerteza, tocou em seu braço para ver se estava acordado. Pareceu-lhe normal, o ferimento tinha sumido. Nenhum arranhão, sequer. Seu corpo estava com um brilho especial. Mas aquelas roupas, não eram as que estavam usando há pouco. Tinha algo semelhante a armaduras de guerra. Deveria ser de um soldado, mas ele não era um soldado. A pouco, era apenas João retratista, de repente estava em cima de um cavalo branco, a meio uma batalha sangrenta, que o levou repentinamente para este local desolado, e sombrio.

Enquanto, se movimentava pelos destroços e terra seca e rachada, percebe que aquele lugar era acinzentado, e não parecia ter cor. Quando, de súbito um som intrigante como vento, que assobiava cortante, o assolou der repente. Foi como uma navalha veio do nada, e passou rapidamente não deixando nem rastros. Não pareceu sentir qualquer frio ou empurrão do vento, pois não havia pressão do ar. Se não era o vento o que poderia causar tal barulho e arrepio em sua pele.

Seguiu em frente caminhando por uma estradinha que parecia levar a uma gruta, e entrou no local. Havia uma tocha acesa que iluminava as crateras escuras da gruta. Percebeu que a entrada era apertada, mas que logo à frente, poderia encontrar alguma saída, ou talvez, alguém que pudesse lhe dizer o que estava acontecendo. Pegou a tocha acesa, e seguiu em frente, até atingir uma nova entrada, interna, que dava para uma outra câmera de pedras rochosas, onde se encontrava, diante a uma luz que vinha do alto, iluminado o ambiente sombrio. Não havia adornos ou objetos quaisquer naquela sala, apenas uma pedra que estava no centro da gruta. Sentou então para descansar, e a tênue luz batia em sua face, quando, observou que logo à frente perto da parede, havia entre as pedras, uma que se destacava. Aproximou-se para ver melhor, e uma descrição que jurava não estar ali antes, desenhava o perfil de uma porta secreta, entre as rochas. Em uma das pedras, um símbolo, aparentava ser uma letra hebraica. Aquele símbolo era uma letra hebraica, e representava um elemento: Ar. Logo aproximou a mão, quando seu corpo é inundado por uma luz muito branca, que transpôs a parede, reaparecendo logo a seguir do outro lado da câmera. Estava em um jardim, repleto de flores, lagos, e montanhas. O sol era brilhante, mas seus raios pareciam não emitir calor algum. Caminhou para aquela paisagem, e seus olhos estavam fascinados, por tanta harmonia, no que via.

Observa que alguém se aproximava a galope em um cavalo, revestido por armaduras, coloridas. Este acena ao longo, e aproxima-se dizendo:

--- Por aqui, eleito! O rei vos espera com certa ansiedade. --- disse o guerreiro com tom amável.

--- Onde estou?

--- Bem vindo Aroldo. È bom estar de volta. Nosso pai o espera ansioso por sua volta.

Nosso pai? E por que me chamou de Aroldo. Acaso me conheces, ou deves ter-se confundido com outro.

Então João seguiu o magnífico cavaleiro, em direção a um desfiladeiro que adentrava a paisagem bela, fazendo do lugar uma imagem um pouco sinistra. Pois observou, que havia dois climas naquele lugar estranho, que se misturavam, numa espécie de cor e borrão. O cenário havia tanto flores como espinhos, campo esverdeado, como rochas secas, misturadas ao cenário pitoresco, e fascinante. Logo aproximaram as portas do castelo, que estava separado por riacho de águas escuras. No local uma pequena barca os espera. O estranho soldado os convidou para que entrassem no pequeno barco que os levaria até o outro lado. Ele calmamente os conduzia, empurrando o barco com uma longa vara que desaparecia por entre as escuras águas do rio.

Finalmente chega ao outro lado, e logo é conduzido para o castelo.

Uma festa estava sendo comemorada, quando o Rei se aproximou e disse:

--- Bem Vindo! Esta festa é para você, meu filho.

O Rei o abraçava igual a um pai, que não vê o filho a muito. João não estava entendo nada. Estava diante a um mistério, e mais ainda. Por que não os conhecia?

Estava sendo agraciados por pessoas que nunca vira antes, mas que pareciam o conhecer profundamente. Mas, ainda não entendia por que eles o chamavam de Aroldo. E a estas alturas, vendo toda a euforia, do rei, e seus súditos, pareceu-lhe oportuno, ficar em silêncio, e esperar o que lhe aguardava.

No pátio que dava entrada ao salão principal, havia duas mulheres apenas, que logo correram para agraciá-lo, e chamando de irmão. Não havia mais do que vinte pessoas ao todo naquele lugar estranho, que se encontrava. Todos estavam eufóricos, a sua chegada, mas embora todos o chamassem de Aroldo, ele não os conhecia.

Uma festa estava acontecendo no reino, e todos estavam comemorando a sua chegada. Mas, sabia que tudo aquilo era muito estranho, e haveria de encontrar respostas para todas as suas dúvidas. Como tudo naquele lugar, era muito estranho.  O velho de barbas brancas caindo até o peito, que dizia ser seu pai, e aquelas mulheres, embora muito bonitas, era esquisito, pois realizavam coisas estranhas, como flutuar pelo espaço.

---- Por que tanta felicidade, e essa paz, que nunca acaba?

---- Estamos comemorando a sua volta.

Minha volta, mas eu nem conheço este lugar? Acaso já estive aqui? --- Perguntei a garota, que dançava no espaço, flutuando.

---- Esta é sua casa. Não reconhece seus irmãos e pais?

---- Está dizendo que, é minha irmã? E aqueles que estão sentados naquele trono são meus pais?

--- Exatamente. Muito tempo se passou, mas embora suas vestes e forma assumissem outra personalidade, continua sendo o mesmo, desde sua partida.

Não acreditava no que aquela menina estava dizendo, não fazia sentido. Minha família era outra até... Mas o que estaria acontecendo? Que lugar realmente era aquele?  Foi quando João resolve procurar o rei e acabar de uma vez por toda com aquela duvida.

--- Diga-me majestade. Quem realmente são vocês? Acabo de indagar uma das meninas, e ela me disse coisas absurdas.

--- Que somos sua família? Que este é seu lar? Mas é verdade.

--- Isso é loucura! Não posso aceitar isso como verdade!

--- Pois aceite. Desde sua partida para batalha há muito tempo, que não o via-mos.  Estava-mos ansioso para sua volta, quando soubemos que voltaria, preparamos esta festa para comemorar sua chegada.

---- Mas, como é possível? Eu a pouco estava em minha casa, e usava roupas normais, e agora me encontro num lugar estranho usando estas armaduras de um guerreiro. Devo estar sonhando. Isto não é real. Vocês não são reais.

--- È... Parece que você se esqueceu de nós, depois que partiu para a batalha, há anos. Agora retorna, e nos insulta.

--- Não, eu não quero ofendê-los, mas não posso aceitar que estejam falando a verdade.

João percebeu que o rei se aborreceu com o que acabara de ouvir. E se afastou. Depois, retorna, e diz:

  ---Agora deve se preparar para seu casamento. Sua noiva o aguarda ansiosa por sua volta.

Mas que loucura. Como eu poderia ter deixado neste lugar uma noiva a qual nem conheço? Tinha de deixá-los antes que acabasse enlouquecendo.

O rei retirou-se e logo retornou, trazendo um traje aos quais os demais usavam. E, deu-lhe um arco e flecha e disse:

--- Deve ir até a floresta do medo, e retornar com a cabeça do Leão. Depois que matar o Leão, e trazer a sua pele como presente a noiva, lhes será concedida. Até que isso, não aconteça, vivera na incerteza.

--- E como encontrarei o Leão, da floresta?

--- Ele encontrara você? Vá, e traga a cabeça do Leão, só assim, estarás pronto para receber sua noiva.

---- Floresta do medo! O que pode ter lá de tão apavorante? --- Indagou João.

Segundo a lenda, costa que lá mora o filho de um deus, que matou o irmão, para se apossar do trono. Foi banido para sempre na floresta do medo, junto ao seu fiel e amigo Leão de duas cabeças.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo II

 

O MISTERIOSO LEÃO

 

 

 

Estava diante da floresta do medo, ao percorrer a estradinha, alguma coisa pareceu fechar a entrada que ficava para trás; foi como se tudo sumisse de sua vista. Não havia como voltar, pois estava preso na floresta do medo. Um som aterrador precipitou ecoando mata adentro. Mil olhos pareciam estar observando-o, em cada canto que fosse. Percorreu mata adentro, sob um breu cálido, sem um ruído sequer de algum animal. Quando de repente, depara-se com a magistral figura de um Leão, que diante dele surge; com olhos aterradores, espreitando caminho.

Logo que sentiu a presença de intrusos, levantou-se de seu trono, e lançou olhar frio ao forasteiro que ali estava em sua oca. O leão tinha algo estranhamente anormal, em seu olhar, como se quisesse dizer alguma coisa. Quando se levantou, assumiu forma de um humano.

--- quem ou o que é você?

--- Veio caçar-me? Sinto dizer, mas terei de devorá-lo. Muitos, já tentaram, e já cansei desta brincadeirinha.

---- Não, tenho medo, Leão! Irei levar sua cabeça como presente de minha Noiva.

--- Ora, ora, que temos aqui. Uma alma fresquinha. Aposto que chegaste logo... Eu adoro almas que recém chegaram ao paraíso. --- Rugiu o ser diabólico, trocando de forma com o Leão.

O leão partiu ferozmente para cima de João, este, defere vários golpes contra as garras do leão, que incansavelmente avançava cada vez mais furioso. As presas afiadas cortam os braços de João, mas este não parece se ferir. Aquela blindagem da sua roupa protegia-o das garras do leão. Uma brutal e invencível força partiu daquela espada, como se a fizesse parte dela, há muito tempo.

--- Não adianta esconder-se. Eu acharei, e quando isso acontecer, vou devorá-lo, com minhas presas de aço.

Não! A menos que se deixasse abater pelo medo, poderia vencer a fera que estava a sua frente. Subitamente uma força descomunal abateu-se sobre ele, que atacou impiedosamente o Leão, deferindo vários golpes de espada, não permitindo que ele reagisse com suas afiadas garras de aço.

--- Morra maldito!

Sua ira ferozmente feriu o coração do Leão, várias vezes, antes que caísse morto ao chão. A fera estava vencida. Estava diante dele, o leão que aterrorizava a floresta do medo. Agarrou sua cabeça e cortou-a conforme o rei tinha pedido, e colocou num saco. O corpo retirou a pele, e levou-a como presente para que fosse confeccionado um tapete.

Retornou ao reino trazendo sobre as costas, o leão que tinha vencido. Estava orgulhoso quando se aproximou do castelo. Muitos tinham tentando matar aquele indomável leão, mas todos falharam. Apenas a ele foi-lhes dado à coragem de vencer a batalha.

Aproximou-se do trono do rei, e jogou o leão sobre o tapete vermelho que se estendia até a porta da entrada do reino.

--- Eis, o leão! --- Tinha um tom de orgulho. --- Minha recompensa?

Todos olharam com admiração, pois nunca alguém tinha conseguido aquela proeza.

--- Muito, bem meu filho. Você conseguiu matar o Leão.

--- Onde está minha noiva?

--- Infelizmente chegaste tarde! Ela foi aprisionada pelo Dragão dos desejos, e está numa torre bem no alto daquela montanha.

Ele espantou-se.

--- Como chego até lá?

--- Ninguém na forma humana consegue chegar até lá. È preciso ter asas, e voar como um pássaro. Creio que estás confinado a viver para sempre neste mundo, sem progressão.

João ficou desapontado com o que ouvira, mas não podia fazer nada. A montanha parecia ser muito alta, mesmo que quisesse escalá-la, não sabia nada daquele mundo insólito em que se encontrava. Teria de descobrir como aquele povo conseguia voar tão facilmente. Se realmente já viveu ali, então deverias saber de algum modo, conforme afirmara o rei. Aproximou-se de uma jovem que pairava por perto, e chamou-a. Esta com ar harmonioso baixaram, sobre ele. Possuía longo vestido, destes que usam para uma festa de casamento.

--- Diga-me, como podes voar facilmente, neste lugar?

--- Use a imaginação.

--- Imaginação?

--- Sim a imaginação tem asas.

--- Pode me ensinar?

--- Claro! Venha!

 

Ela o tomou pelas mãos e o conduziu até as escadarias mais altas do castelo

--- Pule e voe.

--- O que? --- ele então percebe que ela parecia estar falando a verdade. --- Eu... Não posso! Vou me arrebentar todo lá em baixo.

--- Use sua imaginação. Tome distancia, e pule. Verás que é muito fácil.

Ela estava convencida de que ele poderia realizar aquela proeza, demonstrando em seu olhar e expresso num sorriso amável. Tudo aqui neste lugar parecia muito estranho, pensou. Se ela essa dizendo que posso voar, é por que posso. Afinal, sabia muito bem usar a imaginação quando fosse preciso. Iniciou então uma profunda concentração, e mudou alguns passos para trás, e então correu em direção ao beiral das escadarias, e lançou-se contra o espaço na tentativa de que voaria de verdade, usando a imaginação quando estivesse em plenos ares. Pobre João, mal sabia o que lhe esperava. Seu grito ecoou pelos redores do castelo chamando atenção dos que ali estava no pátio a passear, quando despencou escadaria a baixo espatifando-se contra o solo. Seu corpo bateu contra o chão, mas incrivelmente estava vivo. Pensou! Nenhum arranhão sequer, e nenhuma dor no corpo, tinha lhes causado a queda. A jovem moça, junto aos demais, parecia estar achando graça. Enquanto ele examinava seu corpo para ver se estava tudo em ordem, o rei se aproximava.

--- Por que não sofri arranhão algum da queda?

--- Não iras conseguir voar, por que pensa que ainda possui o antigo corpo. Aqui não temos corpos físicos, somos apenas energia. Foi por isso que não sofreu nenhum ferimento. Aqui neste mundo tudo é essência etérea. Deves compreender isso. Ou ficara preso ao chão por muito tempo.

Havia mistério nas palavras do rei que não conseguia entender. Como poderia esquecer seu corpo, se podia senti-lo ainda como parte física, e tudo, eram reais. Se fosse espírito estaria morto, e tinha certeza de que tudo aquilo não passava de um sonho, e que logo acordaria e sairia daquele lugar estranho. Mas logo que aquelas palavras do rei entraram em sua cabeça começou a analisá-las, de um ponto de vista diferente. Fazia sentido, ou de outra forma tinha se esborrachado inteiro com a queda. Então resolveu entender aquele mundo insólito em que se encontrava, pois não haveria outra escolha a fazer. Aprender os costumes e a vida daqueles seres que pareciam vagar pelo espaço como fantasmas. E se fossem realmente espírito? E se estivesse morto de fato! Todos ali naquele lugar flutuavam como pluma, e percebeu algo de estranho no clima. Não havia vento, ou corrente ar sequer na atmosfera. Estava tão distraído com tudo, que não percebeu que nem estava respirando. E embora pudesse falar com as pessoas daquele lugar, nem ao menos percebeu que nenhum deles movimentava os lábios ao falar. Sabia apenas que estava se comunicando, mas agora podia compreender melhor. Depois de examiná-los com atenção, todos pareciam realmente ser espíritos.

--- Pode me mostrar novamente como se voa?

--- Claro, mas creio que não esteja preparado para fazer isso, meu irmão.

--- De onde venho, conhecemos muito bem como voar.

--- Podes tentar daqui mesmo. Caso não consiga!

--- Lá em cima!

--- O que? Não podes se arriscar tanto. É muito alto!

A torre do castelo, era extremamente alta. Mas se não possuía realmente seu corpo físico como disseram, então não estaria perdendo quase nada. Tinha apenas de se convencer de que realmente tudo era espírito. Então subiu na torre junto a jovem moça que estava ensinando as técnicas de vôo, e deparou-se com o magistral cenário insólito daquele mundo de espíritos. No alto, podia ver o pico da montanha que desaparecia para além das tenras nuvens. E antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele saltou para cima usando todo seu poder de imaginação, e então voou como nunca. Para surpresa dos olhos curiosos que o observavam, no alto uma nova alma surgia vagando graciosamente pelo espaço.

Aroldo como era conhecido agora, voou, voou, para o alto até que se deu por conta estava tão distante do castelo do rei, que não pensava em voltar. As montanhas surgiram de repente a sua frente, e agora podia chegar até o topo da montanha, onde resgataria a sua noiva. Por algum tempo pensou que aquela escalada nunca acabaria e não chegaria ao final, pois a montanha era extensamente alta. Quando finalmente chega ao final da jornada, avista uma torre no pico da montanha, coberta por uma camada de nuvens que emergiam raios faiscantes pelos céus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPITULO 3

 

 

 

 

 

Terra Desconhecida

 

Quando entrou na superfície, inusitavelmente perde sua habilidade de voar, e despenca até o solo, mais uma vez. O que poderia ter causado sua queda? O fato era que para chegar até a torre ainda estava muito longe, e teria de andar, por entre um desfiladeiro a beira de um abismo sem fim. Sabia apenas que tinha de resgatar a noiva, para que pudesse retornar para casa. Essa era a sua missão, pois poderia ficar confinado para sempre neste mundo de incertezas. Quando o destemido se pôs a percorrer o caminho estreito do desfiladeiro, sentiu um arrepio em seu corpo, pois a sombra do medo do desconhecido era assustador, e estava sozinho naquele lugar esquisito, sem uma sequer alma viva. Apenas a coragem e a certeza de que o que pudesse vir pela frente poderia vencer como tantas lutas e batalhas vencidas em sua jornada mística.

O céu era escuro como breu, e o silencio atordoava suas vista, quando mais e mais se aproximava das encostas das masmorras da torre, que se estendia para o alto em sete camadas de esfera. A entrada era estreita, e teria de agachar para percorrer um túnel que levava para as escadarias da torre. Ao norte, avistou um cavalo branco como se estivesse a sua espera, pronto para galopar, numa postura majestosa. Então, este se aproxima dele, então como se o já o conhecesse, como dois velhos amigos, retoma sua garupa, e partem em seguida a galope. Enquanto galopava pelas encruzilhadas, pode ver uma pequena ponte, que certamente daria para algum vilarejo. Aproximou-se então, e avista logo a frente um pequeno vilarejo. Quando seu cavalo branco aproxima-se pode perceber que havia um tumulto na pequena aldeia, onde pareciam estar realizando uma cerimônia. Estranho, foi que ao deparar-se com o ocorrido, pode ver uma jovem moça que estava amarrada em um tronco, dentro do que podia ser a sua condenação a morte. Todos gritavam em tons agressivos, para que o carrasco ateasse fogo aos gravetos que rodeavam o corpo da jovem em pânico. O fogo logo cercou a jovem envolvendo a meio as chamas agitadas. A uma só voz o povo daquele pequeno vilarejo, gritava: “Morte a feiticeira”. E, então Aroldo, sem esperar pelo pior acontecesse, açoita seu cavalo, e aproximava-se da fogueira, e com sua espada, corta as cordas que prendiam a jovem moça. Em meio ao tumulto que se fazia ao ver àqueles cavaleiros estranhos, que salvava a jovem feiticeira, eles se põem a gritar: “Sacrilégio”.

Em meio aquele tumulto, Aroldo foge para longe daquele povo enfurecido, pois, qual fosse o motivo que os levaram a realizar aquela cena de morte a pequena jovem, ele não podia deixar de ajudá-la.

Cavalgou para bem longe do vilarejo, e só parou quando estava bem longe.

- Aroldo – Disse a garota graciosamente quando ele parou de galopar – Você veio...?

O tom da jovem mulher que aparentava uns 20 anos, era de velhos conhecidos. E Aroldo estava confuso, pois alguma coisa nela lhe parecia conhecido.

- Me conhece?

- Como poderias te esquecer, amado meu.

Ela pulou para seus braços, como se tivesse por fim dado, a tanta espera, por seu amado noivo.

- Estou feliz por ter voltado para mim.

- Não pode estar acontecendo. Isto tudo aqui é muito estranho. Que mundo eu estou? Estou morto?

- Como pode dizer uma coisa dessas, Aroldo, meu amado. – Replicou a moça – Estás vivo... E estou feliz por ter voltado.

- Quem és você? Como se chama?

- Sou Sophia, sua noiva.

- Espere! Não estou compreendendo – Disse ele andado de um lado para outro - A pouco encontrei um castelo, onde pessoas que nunca tinha visto antes, disseram ser minha família. E disse para mim, matar um leão como presente a minha noiva. Eu, não entendo, o que está acontecendo? Eu estou morto?

- Não, Aroldo – A Disse sorridente – Achamos que estava morto. Mas agora está de volta.

- Que lugar é este?

- Aqui é o reino de Carlos I. Rei da França. E tu és o príncipe Aroldo. Herdeiro do trono real.

- Não... Não pode ser. Eu sou João, e vivo na terra no século XX. Não posso estar neste tempo.

- Não entendo o que falas Aroldo.Mas que bom que estás vivo. Vamos para casa, antes que escureça. Temos uma cerimônia, nos esperando.

- Cerimônia? 

 

João agora estava mais confuso ainda com tudo aquilo que estava acontecendo. Tudo acontecia estranhamente naquele lugar e achava realmente que estava vivendo numa terra estranha, exatamente há quatrocentos anos, na época dos cavaleiros templários.